2006-03-21

Crónica de uma atrocidade anunciada, em tom de desilusão



Esta crónica é sobre o "Dia Mundial da Àrvore" e o "Dia Mundial da Floresta", que hoje se comemoram. É escrita em tom de desilusão enlutada, por motivos óbvios.

Imagine o caro leitor, ou leitora, que na terra onde vive existe um enorme quintal de uma antiga fábrica há muito abandonada, que se situa na malha urbana da própria cidade. (*)

Imagine que nesse espaço existem duas árvores de grande porte. Árvores centenárias, a julgar pela largura do seu tronco. E que são, ao que se sabe, as maiores do concelho. Uma delas são precisas quatro pessoas para a abraçar e a outra três pessoas. Cada uma com uma altura de muitos, muitos metros, não se sabe bem quantos. Talvez uns vinte. Adiante.

Imagine agora que foi decidido aproveitar todo aquele espaço para construir vários blocos de apartamentos, actualmente já habitados. E entre as duas enormes árvores construiu-se um pequeno espaço de brincadeiras para crianças, com um escorrega e dois brinquedos com molas presos ao chão. Havia alguns outros sítios para colocar esse parque, mas alguém decidiu que tinha de ser ali, debaixo daquelas árvores. Quanto aos blocos de apartamentos, um deles foi construído muito perto de uma dessas árvores. Tudo devidamente aprovado e licenciado.

Imagine ainda que num belo dia, ambas as árvores aparecem decepadas como as fotos demonstram. Uma autêntica "limpeza". Costuma haver sempre uma “boa desculpa” para estas atrocidades. Desta vez, como não podia deixar de ser, há também algumas razões invocadas: que as folhas das árvores entupiam os algerozes e, pior ainda, segundo dizem, em dias de vento as crianças não podiam ir brincar no parque porque caiam pequenos troncos das árvores. Bem, sobre estas razões apresentadas não vale a pena falar. São óbvias.

Mas imagine, só mais esta vez, que o caro leitor que se interessa em saber se não era já previsível, antes de planeadas aquelas construções, que as árvores se comportassem exactamente como vem acontecendo desde que existem árvores. Ou seja, que as suas folhas caiam. E que, em dias de vento, acontece o mesmo com os seus ramos mais fracos. Ora tudo isto, pensará o leitor, e muito bem, faria prever que haveria vantagens em que aquelas edificações tivessem sido programadas para um local mais afastado. Mas não foi isso que aconteceu. Infelizmente.

Nesta fase, já não valerá a pena estar a imaginar mais coisa nenhuma, nem sequer enfurecer-se com estas barbaridades avulsas, porque não ganha nada com isso. Estava à espera de quê? Que houvesse bom senso por parte de quem decidiu colocar um parque infantil mesmo por debaixo daquelas árvores centenárias, mesmo sabendo que elas não iriam alterar o seu comportamento normal? Ou de quem construiu quase em cima das mesmas árvores, esquecendo-se (será este o termo correcto?) de que os algerozes, quando desprotegidos de sistemas apropriados, não convivem bem com a queda das folhas? Ou que houvesse bom senso por parte de quem produziu aquelas aberrações, aquele corte nas árvores? Árvores essas que são, no meio desta triste crónica, quem menos culpa tem?

Ora se o leitor estava à espera de outras atitudes de maior bom senso por parte dos responsáveis por esta horrível atitude, estava certamente a pedir demais! Agora um pequeno desafio, aliás, não é bem um desafio, é mais um jogo de adivinha: onde é que pensa que tudo isto aconteceu? Humm ... difícil, muito difícil, não é?

(*) este assunto foi tratado pela primeira vez no blogue "GeraçãoVN", do amigo Marketeer.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não consigo identificar o local, mas gostava de saber qual é o autarca que demonstra tanta insensibilidade.
Esses "vândalos" não sabem quanto tempo demora uma árvore a crescer e abatem-na em segundos...

quinta-feira, março 30, 2006  
Blogger AnaCristina said...

É o problema das cidades...
Desaparece tudo o que é vegetação...

terça-feira, abril 04, 2006  

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